Revista de filosofía

Critica da subjetiviade e a crise do humano: Butler, pós-estruturalismo e performatividade

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O que posso ser num mundo cujos limites do sujeito me são dados de antemão?

Judith Butler

 

Resumo

No presente texto parto da constatação de que a crítica da subjetividade é vista com desconfiança não apenas no interior de determinados debates acadêmicos, como também no registro de algumas narrativas políticas responsáveis por reproduzir estrategicamente tal desconfiança pela justaposição entre os discursos identitários e a fragmentação do sujeito, assim como a fragmentação do sujeito e a crise do humano em geral. Para mostrar os equívocos ou má compreensões presentes nessas leituras, analiso a noção de performatividade de Butler. Inicialmente a exposição da performatividade pontua o problema da manutenção do sujeito como fundamento intocável e o pensa no contexto de realização continuada. A partir daí os termos da constituição do sujeito são pensados em sua dimensão excludente, o que permite refletir sobre os limites impostos ao humano e como é na direção de sua ressignificação e não aniquilação que se move a crítica da subjetividade.

Palavras-chave: pósestruturalismo, performatividade, subjetividade, Butler, crise do humano, fragmentação do sujeito.

 

Abstract

In the present text I start by pointing out that the criticism of subjectivity is seen with distrust only within certain academic debates, such as in the register of some political narratives, responsible for strategically reproducing this distrust in the juxtaposition between the identity discourses and the fragmentation of the subject, as well as the fragmentation of the subject and the crisis of the human in general. To show the misunderstanding or misunderstandings present in these readings, I analyze Butler’s notion of performativity. Initially, the presentation of performativity points to the problem of maintaining the subject as an untouchable foundation and thinks about it in the context of its continued realization. From this, the terms of the constitution of the subject are thought of in its exclusive dimension, which allows reflection on the limits imposed on humans, which goes in the direction of its resignification and its annihilation, which moves towards criticism of subjectivity.

Keywords: poststructuralism, performativity, subjectivity, Butler, crisis of the human, fragmentation of the subject.

 

Crítica da subjetividade em momento de violência conta o humano

Gostaria de começar por um ponto bastante conhecido: a crítica dirigida à Judith Butler, especialmente por Seyla Benhabib, focada sobretudo nos problemas que entende se apresentarem na reflexão que rejeita o horizonte subjetivista. Este ponto de abertura está pautado em debates de longo prazo, que inclusive conta com a obra de diálogos Feminist Constentions, com proposições e réplicas[1]. Isso quer dizer que o pensamento de Butler já está colocado num determinado espaço de significações. A autora é geralmente relacionada à pós-modernidade,[2] ao pós-estruturalismo, à crítica da subjetividade e à um “construtivismo radical”, responsável por permitir a compreensão da elaboração linguística do sexo e dos corpos.[3] Mesmo que tais enquadramentos sejam, na sua maioria, passíveis de debate, especialmente sobre o modo de considerar cada uma dessas vertentes, o pensamento de Butler, para sua opositora, se coloca no registro do desmonte radical da subjetividade, que assinala a infertilidade de uma política sem agência e, no limite, na impossibilidade da própria política. O ponto nodal da rejeição de seu pensamento reside fortemente no que Benhabib considera a falha humanista, uma vez que a aniquilação do sujeito, na versão ‘pós-moderna’ de Butler, “eliminates those ideals of autonomy, reflexivity, and accountability which are necessary to the idea of historical change”.[4]

A negação da subjetividade importaria, assim, na impossibilidade de uma teoria crítica e abriria para uma visão improdutiva tanto na teoria feminista quanto na filosofia como crítica. Seria preciso, para não cair nesse aquietamento, aceitar a crítica do sujeito numa versão atenuada para não abalar sua condição de fundamento e possibilidade da ação política.

Butler, por sua vez, apresenta no texto Contingent Foundations, a reflexão acerca dos problemas de uma filosofia que parte de pressupostos inquestionáveis e postos fora dos limites da possibilidade crítica. A aceitação de uma subjetividade prévia ao exercício crítico e, mais que isso, entendida como a condição mesma da crítica, indicaria um tipo de reflexão não verdadeiramente comprometida em pensar os contornos normativos do sujeito e incapaz de levar a crítica para além das premissas contingentemente postas como necessárias.[5]

Como Linda Nicholson lembra, Butler entende fundamental o questionamento sobre a posição na qual “certain philosophical presuppositions are required for emancipatory politics”.[6] Entra em cena a pergunta sobre os efeitos de poder (e exclusão) de uma noção de emancipação normativa em suas bases.

A partir daqui quero sugerir que o embate acerca do problema da subjetividade, muito pontual no diálogo acima mencionado, extrapola o espaço do debate acadêmico.[7] Atualmente as narrativas políticas institucionais e as mídias sociais instrumentalizam esse debate, por uma retórica que, explicitamente ou não, anuncia o perigo do pós-moderno, do pós-estruturalismo e da fragmentação do sujeito. Pelo menos duas ordens de relações inapropriadas são correntes. Uma primeira replica a dualidade ‘fragmento e todo’ e direciona a discussão pela fácil (e também estratégica) analogia entre crítica do sujeito como crítica do humano, o que serve para interpretar pautas políticas encabeçadas por certo agentes, grupos ou partidos como imediatamente boas ou cheias de riscos. Uma segunda relação inadequada que perpassa o debate político (sobretudo o institucionalizado em partidos) iguala sem qualquer distância as micropolíticas ou políticas identitárias à fragmentação do sujeito.

De um lado, a dualidade ‘todo e a parte’ leva a supor que a fragmentação do sujeito é imediatamente sua renúncia e derrocada do humano. De outro lado, a identificação das políticas identitárias como exercício de fragmentação do sujeito, seriam consequentemente fonte de crise da concepção de humanidade. Essas localizações receberam a atenção de Butler que, no início do artigo Vida Precária, coloca a pergunta: “Teriam as humanidades sabotado a si mesmas, com todo seu relativismo, questionamento e criticismo, ou teriam elas sido sabotadas por todos aqueles que se opõem ao seu relativismo, questionamento e criticismo?”[8]

Sua posição é a de que existe uma obrigação ética em responder a essa pergunta, sem que a resposta envie para uma recostura entre ‘autor e conteúdo do discurso’,[9] como se todo discurso tivesse como ponto de origem a intenção e a consciência. Quer dizer, a resposta não é a recolocação do sujeito clássico, mas a urgência de pensar mais a fundo como os moldes da subjetividade são normativos e estabelecem as condições de viabilidade e inviabilidade de certas formas de vida.

JUDITH BUTLER

Naquele artigo o percurso de Butler segue pela vereda ético-política do reconhecimento e apelo do Outro. O que pretendo aqui não é entrar nessa discussão e sim permanecer no registro do problema da crítica da subjetividade, especificamente no que diz respeito às consequências a ela reputadas (fragmentação-aniquilação do sujeito e, por uma ordem frágil de consequência, também da ideia geral de humano).

Nesse sentido, a análise da performatividade em Butler será tomada como ponto inicial, uma vez que o pensamento sobre os processos performativos desterritorializa o sujeito de seu contexto metafísico original, para ressignificá-lo em termos de realização. Uma vez esclarecidos alguns aspectos importantes sobre a ‘construção’[10] performativa do sujeito, passo a pontuar equívocos na aproximação da fragmentação do sujeito como crise do humano.

 

Sujeito e performatividade

A performatividade é uma das noções mais centrais do pensamento de Butler e marca suas reflexões desde a década de 90, quando trata da performatividade de gênero até as obras mais recentes que tratam de performatividade política. Além de assinalar esse longo percurso filosófico da autora, a performatividade atravessa questões epistemológicas, ontológicas, éticas e políticas, revelando um quadro bastante complexo, que naturalmente não explorarei no detalhe e de modo completo.

A intenção que tenho é a de expor com relação à performatividade, seus pontos de embate com uma filosofia do sujeito ou, dito de outro modo, com a metafísica da substância. Ainda que o contexto preciso da formulação inicial desse tema seja o da teoria de gênero, onde Butler reclama que não apenas o gênero, mas também o sexo – o corpo sexuado e sua materialização – não é realidade natural e previamente dada em relação à referencialidade do discurso, os caminhos para pensar materialidade e (crítica ao) construtivismo, são fundamentais para compreender o quadro de rejeição da subjetividade (os termos dessa rejeição).

Pela performatividade é possível uma compreensão dos sujeitos que se realizam de modo continuado, no lugar de sujeitos vistos ontologicamente como condição de possibilidade da ação, linguagem, política e etc. Menos que uma rejeição radical do sujeito, a performatividade aponta para a mobilidade de sua inscrição enquanto fundamento que se recoloca incessantemente e por isso já não se constitui a partir de uma significação forte e metafísica.

Esse deslocamento é atividade da postura teórica que, como já assinalado, reclama a impropriedade do estabelecimento de pontos colocados fora do que pode ser questionado. Estabelecer o sujeito como um ponto externo e anterior à atividade política e,[11] portanto, como a base mesma a partir da qual esta última é possível, seria conferir ao sujeito um posto assegurado de exclusão ao questionamento quanto à sua existência e estatuto constitutivo. Como lembra Linda Nicholson: “For in doing so, we lose sight of those exclusionary moves which are effected by its use. Particularly, we lose sight of how the subject itself is constituted by the very positions it claims to possess”.[12]

YVES KLEIN, “UNTITLED ANTROPOMETRY” (1960)

O pensamento da performatividade, assim, se estabelece com o colocar em causa o que se situa fora do debate,[13] indica o olhar que se dirige aos processos de constituição linguística dos corpos e sujeitos, motivo pelo qual o pensamento de Butler é alvo de objeções por incorrer no determinismo, no monismo linguístico e no construtivismo radical.

Mas Butler, em Bodies that Matter, cerca de questões o que se entende por construção e esquadrinha duas versões de construtivismo, diante dos quais se coloca criticamente e não se reconhece integrante. Uma primeira, limitada, que entende a construção a partir de uma base irredutível a partir da qual opera. Nesse caso, o corpo ou o sexo seriam prévios (instâncias naturais) sobre os quais são produzidas construções. Nela permanece a força do sujeito voluntarista na realização da construção, exatamente o que pretendia ser rejeitado pelo construtivismo.[14] A segunda versão de construção, mais radical, rejeita o corpo ou o sexo previamente dados, e os pensa como construção linguística determinada. Esta última versão, para Butler, não permite fugir do esquema metafísico, onde uma posição-fundamento permanece, independente de não serem mais os corpos e os sujeitos a ocuparem o posto e sim a linguagem.

Se há pertinência na objeção dessa última versão como forma de determinismo e de monismo linguístico, é preciso reconhecer que tal formulação crítica não escapa à análise de Butler que aponta o pertencimento do construtivismo radical da linguagem à metafísica da substância:[15]

As a result, construction is still understood as a unilateral process initiated by a prior subject, fortifying that presumption of the metaphysics of the subject that where there is activity, there lurks behind it an initiating and willful subject. On such a view, discourse or language or the social becomes personified, and in the personification the metaphysics of the subject is reconsolidated. In this second view, construction is not an activity, but an act, one which happens once and whose effects are firmly fixed. Thus, constructivism is reduced to determinism and implies the evacuation or displacement of human agency.[16]

O questionamento sobre os elementos implícitos de uma metafísica do sujeito presente nas compreensões de construção, abre a formulação sobre o caráter performativo da construção, descompromissado com qualquer sujeito prévio que a decida ou deseje, bem como com a concepção de construção tida por atuar linguístico delimitado cujos resultados sejam previsíveis e realizáveis de modo definitivo. Pela consideração do performativo a relação entre linguagem e corpo não decorre de um ato construtivo isolado, mas de um processo nunca definitivamente acabado, de modo que a materialização dos corpos pela linguagem indica não uma produção demiúrgica da matéria, mas os processos de referencialidade[17] que confere contornos inteligíveis[18] aos corpos que se fazem em sua relação continuada com as normas e as significações linguísticas. “In the first instance, performativity must be understood not as a singular or deliberate “act,” but, rather, as the reiterative and citational practice by which discourse produces the effects that it names”.[19]

O terreno da performatividade, portanto, não seria a do construtivismo, mas sim o da desconstrução, uma vez que essa ocorre sob o guia explícito da “citacionalidade” e “iterabilidade” derridiana. Assim como a performatividade da linguagem de Derrida, o ato performativo não trata de simples repetição, já que a citação é uma remoção de uma marca de seu contexto primeiro e inserção em outro, enquanto a iterabilidade mostra não a pureza de ‘mesmo’ e ‘outro’, mas, a implicação a eles inerente, quando o mesmo é sempre um tanto outro e o outro carrega traços do mesmo como ponto a partir do qual produz alteração. É aí que reiteração é um repor com deslocamento, é tanto estabilizar (pela repetição das normas), quanto desestabilizar (pela sua repetição sempre removida e deslocada do contexto primeiro).

O agir e o falar ocorrem sempre num tempo e espaço diverso das citações já feitas e por fazer,[20] o que quer dizer que tais modificações de contexto são também modificações de significado: ressignificações. Assim, o normativo é base de fechamento e abertura, sua própria constrição traz consigo as condições de sua modificação, já que é no falar e no agir, ou seja, nos movimentos processuais performativos em contínua ocorrência que se dá. A construção pensada em seu caráter performativo é construção cujos vértices de início e fim são instáveis. Não há determinação uma vez que os fundamentos e seus efeitos não são fortes ou definitivos o suficiente para definir o que ocorre na construção.

A importância que Butler confere a essa dimensão da realização dos sujeitos na ação e não por critérios rígidos dados de antemão que já sabem exatamente o que deles vai resultar, reaparece no texto em que analisa a noção de crítica em Michel Foucault.[21] Ali a autora enfatiza que a crítica como prática está ligada às formas de subjetivação, para mostrar em Foucault uma relação não ‘mecânica’ ou ‘previsível’ entre norma e subjetivação. O sujeito, nem fundamento e nem resultado produzido de uma vez por todas, mas o que se constitui na ação, no jogo relacional entre norma e subjetivação, leva a considerar que:

A prática da crítica não jorra de uma liberdade inata à alma. Ela, antes, forma-se no embate de uma troca específica entre um conjunto de regras ou preceitos (que já estão dados) e uma estilização de atos (que expande e reformula esse conjunto prévio de regras e preceitos). Essa estilização do ‘eu’, em relação às regras, acaba por constituir uma prática.[22]

O que parece bastante relevante é a vizinhança entre crítica e performatividade como práticas de realização de modos de existir e cuja existência aloca para o mesmo plano ação e efetivação. Esse é um dos pontos chave para alcançar especificamente os termos da crítica da subjetividade que não é apagada, mas reconfigurada nos seus contornos. Para Butler a crítica do sujeito precisa acompanhar a complexa relação entre ato citacional e norma, onde reiteração das normas não é cumprimento, adesão ou obediência do sujeito, mas um fazer que ao repetir as convenções pela manutenção e deslocamento, realiza uma estilística existencial.

Exatamente porque a reiteração expõe o caráter vinculante e habilitador das normas, que as condições dos sujeitos se realizarem pode ser pensada nos termos da contingência e imanência, assim também como seus limites antes necessários se reconfiguram como contingentes. Daí a importância e o perigo de quais convenções normativas e o caráter a elas conferidos. Sua tessitura e cumprimento ou descumprimento realizam tanto os corpos incluídos quanto os excluídos da significação. Analisar criticamente a construção performativa dos sujeitos é atitude de questionar quais modos de existência se qualificam como sujeitos porque reiteram normas válidas, e, no seu revés, quais modos de existência não se habilitam enquanto tal.

 

Fragmentação do sujeito e crítica: caminho da barbárie?

A análise da realização performativa do sujeito, ao mesmo tempo que retira o sujeito autônomo e soberano, anterior e independente das condições normativas que o possibilitam, não é aniquilação completa do sujeito pela constatação de sua condição de ficção reguladora. Diferente disso, o problema da subjetividade persiste, exatamente pelo moldes da crítica, e é renovado em sua importância.

Se sujeitos não são realidades ontologicamente fixas, mas efeitos ontológicos relativos aos contextos normativos, é preciso a um só tempo reconhecer aí modos de vida constituídos na interioridade da reiteração coerente dos contornos categóricos e modos de vida que se constituem em sua exterioridade como incompreensíveis (não como um exterior ontológico, mas epistemológico). Quer dizer, sujeitos não são de modo algum existências autônomas, mas sempre articulações realizadas em referência a um horizonte normativo. Tal compreensão será posteriormente pensada por Butler na dimensão das relações ético-políticas com o outro. Não só o fazer na sua dimensão performativa em face aos fundamentos normativos, mas também a performatividade política que considera os corpos em aliança, as formas de afetação e a dependência/interdependência dos corpos. Mas tais desdobramentos exigiriam uma outra elaboração. Por ora, o caráter crítico do pós-estruturalismo de Butler, até aqui delineado no que se refere ao problema do sujeito, serve para minha intenção de pontuar o quanto essa perspectiva explicita a subjetividade como realização (processo e movimento).

Apenas com isso, o problema inicialmente mencionado – se a crítica e crise do sujeito pode ser equiparada à crise humanista – alcança alguns espaços de reflexão. Naturalmente não pretendo resolver esse grande problema, pretendo apenas ressaltar alguns pontos. Agora o olhar deixa de mirar o debate acadêmico, onde a perspectiva contrária à crítica do sujeito que a reputa como determinista e incapaz de sustentar a autonomia é respondida pela perspectiva de uma filosofia radical que entende justamente tais necessidades como contornos normativos que devem ser enfrentados (o que já foi repetidamente dito). Passo a pensar como certas narrativas políticas (institucionalizadas em partidos ou presentes em grupos ideológicos de redes sociais) têm feito uso caricato e instrumental da crítica do sujeito, apresentando-a de modo estratégico num desenho de fronteiras que divide pautas perigosas (recusa do sujeito universal como recusa do humano) daquelas sadias.

Primeiro é de se considerar a justaposição do sujeito como fragmento e o identitário. Antes de tudo, não parece minimamente claro o que seja sujeito como fragmento. A referência ao fragmento seria expressão das contingências espaço-temporal e culturais a serem consideradas para dar feição e concretude aos sujeitos? Ou, diferente disso, se refere à quebra do sujeito a ponto de torna-lo irreconhecível e impossível? No primeiro caso a reflexão crítica do sujeito ainda tem lugar, no segundo ela é apenas destrutiva e paralisante. Quanto à analogia fragmento e identidade, também aqui são necessárias mediações. A noção de identidade, tal qual manejada pela narrativa política interessada em colocá-la apenas vinculada à lógica de certos grupos contrários à dimensão do todo, é apenas uma concepção possível de identidade.[23] Mais que isso, ainda que se queira ver todo e qualquer grupo ou movimento identitário embalado pela contraposição ao que pertence ao sujeito como um todo, vários elementos típicos da subjetividade se recolocam nos discursos identitários. Boa parte da atuação identitária, apesar de requerer a consideração das condições pontuais e contingentes dos tratamentos assimétricos e preconceituosos a que certos grupos são submetidos, demonstram clara dificuldade, no que diz respeito à auto afirmação, em fazê-la sem recair na busca pelo reconhecimento em termos de verdade e lugar próprio.

Essas mínimas considerações são completamente dissolvidas pela ambiguidade em torno da ideia de politica identitária posta como fragmento. O identitário, apresentado na condição de parte, incapaz ou sem vontade de compor com o todo e, portanto, dele destacado e resolutamente seu agente de dispersão, inviabiliza tanto a percepção de certos resquícios metafísicos que por vezes se mostram, quanto a consideração dos seus movimentos por busca de reconhecimento e integração na condição normativa de humano – do qual alguns grupos foram constituídos na exclusão.

FOTOGRAFÍA TOMADA DE: HTTPS://WWW.VICE.COM/ES_LATAM/ARTICLE/4XKGZJ/SE-PERMITEN-CHAQUETAS-POSTPORNOGRAFIA-EN-VIVO-EN-LA-CDMX

 

Butler, ao tratar a identidade,[24] a vê nesse embaraço de fronteiras. Há uma decidida negação do caráter substancialista da identidade, se ela pode e deve ser pensada, será na exigência de analisar seus modos de construção e de seus espaços constitutivos. O que aparece não é um pensar a identidade pela recusa da concepção de humano, mas justamente a busca pelo reconhecimento dessa condição apelando para a mobilidade das fronteiras que fixam formas estreitas de existir. Mais que isso, apelando não apenas a mobilidade, mas para o questionamento dos critérios categóricos das fronteiras que realizam vidas viáveis e vidas não viáveis. A crítica identitária nesses moldes, assinala o movimento de recusa do sujeito universal naquilo que a força de sua figura estabelece de limites para a existência, pleiteando não sua extinção, e sim flexibilidade inclusiva. É pela expansão do humano que o identitário deve se mover, expondo suas fronteiras epistemológicas cujos efeitos ontológicos são excludentes.

É preciso modificar o modo de conceber as posições identitárias: não se deve retê-las como posições estruturais rígidas, mas como lugares temporais, dinâmicos, que se conectam e se interrelacionam uns com os outros e que, ademais, sob um impulso democrático, não cessam de modificar criticamente as ações de exclusão que efetuam. Adverte-nos Butler: a identidade coerente se sustenta em uma série de exclusões, de atos de crueldade; crueldade também contra si mesma, ou contra si mesmo, já é preciso mutilar facetas que habitam em nossa constituição múltipla, em todos os sujeitos. Reivindicar a supressão ou superação da identidade tampouco é o propósito do texto de Butler. Esse seria também um ato de violência, de autoviolência, já que supõe exigir do sujeito a renúncia àquilo, a identidade, que lhe outorga viabilidade cultural.[25]

Em entrevista concedida por Butler a Elvira Burgos Díaz e Maria Prado Ballarín,[26] aparece uma repetida preocupação com a impermeabilidade e violência do sujeito hegemônico. Mover os limites normativos que circundam de modo tão arbitrário esse sujeito, implica em transformar os limites de formação do ‘eu’ e pluralizar as vidas capazes de ingressar nas condições valorativas e éticas do sujeito. Desse modo, a fragmentação do sujeito importa numa abertura para formas de vidas pertinentes a serem albergadas sob esse signo. A denúncia do sujeito como contingente, portanto, não é sua ruína, mas a possibilidade de contestar os critérios de exercício e pertencimento a essa categoria. Sua relação com a exclusão e a despossessão passam a importar para a consideração de uma ético-política menos violenta (cuja hegemonia e universalidade do sujeito se constituem como prerrogativa de violência).

O controle da noção de sujeito, portanto, como categoria necessária, e o embate com a perspectiva crítica como forma fragmentada ou identitária que abalam tais condições, acaba por revelar uma disputa em torno da questão mesma do humano e quais vidas podem ser consideradas vidas humanas.

La ontología butleriana toma en cuenta un exterior constitutivo que reconfigura de modo fundamental los constructos identitarios; por eso ha de pensarse una lectura crítica de los marcos de inteligibilidad que delimitan el adentro/afuera de lo que significa ser considerado un sujeto.[27]

A prerrogativa de defesa do sujeito exercida como controle de sua condição estável, viabiliza a rejeição da flexibilização de seus contornos epistemológicos e garante efeitos ontológicos seletivos. Mais que a defesa do sujeito universal, a vigilância contra sua crítica é também a vigilância sobre os tipos de vida viáveis pelos critérios normativos postos – o universal então, como categoria normativa, é incapaz de produzir viabilidade para as vidas que não corroboram, pelo exercício performativo, com seus critérios reguladores. O universal é um poderoso instrumento de exclusão. Apenas pelo exercício crítico em face das normas hegemônicas “que los cuerpos pueden actuar, disputar fronteras, contar como sujetos”. [28]

Mas Butler recusa tanto a consideração do universal nos termos dominantes quanto sua objeção como ficção retórica.[29] Exatamente como a crítica do sujeito abre para um pensar mais radical sobre a subjetividade, a reflexão crítica sobre o universal é apontada como uma necessidade.

BRUNO RAMRI POR SANTY MITO. FOTOGRAFÍA TOMADA DE: HTTPS://WWW.TUMBEX.COM/SANTYMITO.TUMBLR/POSTS?PAGE=2&TAG=QUEER

A urgência da consideração do universal se refere não à sua quebra como possibilidade, mas à quebra do seu significado usual e dos atributos a ele referidos. Sua reflexão é feita não no terreno de um próprio, de um conceito demarcado, cujo conteúdo se refira a um traço do real (metafísica da presença). O universal é pensável exatamente por articulações locais e ‘menos que universais’.[30] Em outros termos, sua constituição ocorre pelo esvaziamento do que seu presumido conceito referencia, já que seu conteúdo é estrangeiro ao que reclama como significado autárquico. Problematizar a possibilidade do universal a partir de elementos não universais é uma forma de ressignificá-lo como não monolítico e enraizá-lo nas práticas e demandas sociais. Essa vertiginosa provocação sobre o universal, aparece de modo claro no texto For a Careful Reading:

The problem emerges, though, that what one means by ‘the universal’ will vary, and the cultural articulation of that term in its various modalities will work against precisely the trans-cultural status of the claim. This is not to say that there ought to be no reference to the universal or that it has become, for us, an impossibility. On the contrary. All this means is that there are cultural conditions for articulation which are not always the same, and that the term gains its meaning for us precisely through the decidedly less-than-universal cultural conditions of its articulation. This is a paradox that any injunction to adopt a universal attitude will encounter.[31]

A difícil tarefa de pensar o universal envolve menos a continuada busca daquilo que se acredita pertencer a ele internamente como forma acabada, passível de ser plasmada num conjunto de direitos e mais no esforço de tradução cultural acerca dos termos capazes de permitir que existamos uns diante dos outros[32]. O que preenche os sentidos de tais termos não reside em nenhuma dimensão transcendente aos encontros e disputas, é justamente pela permissão e atenção às demandas variadas e contingentes que o universal ganha sua tessitura (real e não ideal).

Sujeitos necessários como substrato do universal, ancoram na opacidade do sujeito um modelo de política que coloca na porta de entrada uma senha inteiramente territorial, localizada e construída, mas cuja validade quer operar de modo indistinto. Apenas por processos de apagamento ou adestramento a passagem pode ser realizada. É nesse sentido que, por exemplo, a concessão de direitos a certos grupos identitários, pode ser interpretada como vulneração da própria condição universal dos direitos.

O que singelamente pretendi com o percurso feito, foi examinar alguns equívocos ou estratégias das narrativas (algumas acadêmicas outras políticas institucionais) que reputam a crítica do sujeito como perigosa e responsável pela crise do humano. A morte do homem, se minimamente objeto de pauta, diz respeito ao seu caráter fundante-normativo, que estabelece limites assumidos como necessários. A crítica, aqui exposta, é exercício de mover para o contingente tais limites para fazer ingressar no campo do viável, formas de vidas constituídas na exterioridade dos limites postos.

 

Bibliografia  

  1. Butler, Judith. Bodies That Matter: on the discursive limits of ‘sex’. New York & London: Routledge, 1993.
  2. “Contingent Foundations.” In: Feminist Contentions: a philosophical Exchange. Seyla Benhabib et al (Org), with an introduction by Linda Nicholson. New York & London: Routledge, 1995.
  3. “For a Careful Reading”. In: Feminist Contentions: a philosophical Exchange. Seyla Benhabib et al (Org), with an introduction by Linda Nicholson. New York & London: Routledge, 1995.
  4. “Qué cuenta como una vida: entrevista con Judith Butler” por María Prado Ballarín y Elvira Burgos Díaz. In: Qué cuenta como uma vida: la pregunta por la libertad en Judith Butler. Díaz, Elvira Burgos. Madrid: Machado Libros, 2008.
  5. “ O que é a Crítica? Um ensaio sobre a virtude de Foucault.” Tradução de Gustavo Hessmann Dalaqua. In: Cadernos De Ética E Filosofia Política. São Paulo, v. 22, p. 159-179, 2013.  
  6. Vida precária.” Contemporânea \u2013 Revista de Sociologia da UFSCar. São Carlos, Departamento e Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCar, 2011, n.1, p. 13-33
  7. Basso, Ianina Moretti. “Juego de heraldos. La pregunta por la agencia.” In: ¿Qué hacemos con las normas que nos hacen?: usos de Judith Butler. Ianina Moretti Basso et al (Org.). Córdoba: Guillermo Manuel Valdiviezo, 2017.
  8. Díaz, Elvira Burgos. Desconstrução e Subversão: Judith Butler. Tradução de Magda Guadalupe dos Santos e Bárbara Bastos. Sapere Aude. Belo Horizonte, v.4 – n.7, p.441-464, 2013 (1º sem).
  9. Qué cuenta como uma vida: la pregunta por la libertad en Judith Butler.. Madrid: Machado Libros, 2008.
  10. Hall, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Thadeu da Silva e Guaracira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
  11. “Quem precisa de Identidade?” In: Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Silva, Tomaz Thadeu da; Hall, Stuart; Woodward, Kathryn (Orgs.). Tradução de Tomaz Thadeu da Silva. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
  12. Nicholson, Linda. “Introduction”. In: Feminist Contentions: a philosophical Exchange. Seyla Benhabib et al (Org), with an introduction by Linda Nicholson. New York & London: Routledge, 1995.
  13. Varsteling, Veronica. “Butler’s Sophisticated Constructivism: a critical assessment.” In: Hypatia, Indiana University Press, v.14, n.3, p. 17-38, 1999 (Summer)

 

Notas

[1] Seyla Benhabib et al (Org). Feminist Contentions: a philosophical Exchange. with an introduction by Linda Nicholson. New York & London: Routledge, 1995.

[2]A própria Butler rejeita a identificação de pós-moderna e levanta uma série de problemas à noção, para ela bastante ambígua e imprecisa, de pós-modernidade, no texto Contingent Foundations que integra a mencionada coletânea Feminist Contentions.

[3] A esse respeito, Elvira B. Díaz aponta que em obras como Gender Trouble e Bodies that Matter, “tem-se percebido um determinismo linguístico antibiologicista sem remissão que consistiria em sustentar que tudo, inclusive o corpo, é linguagem ou que não há nada mais que a substância das palavras”. Díaz, Elvira Burgos. Desconstrução e Subversão: Judith Butler. Tradução de Magda Guadalupe dos Santos e Bárbara Bastos. Sapere Aude. Belo Horizonte, v.4 – n.7, p.441-464, 2013 (1º sem), p. 441.

[4] Nicholson, Linda. “Introduction.”, In: Feminist Contentions: a philosophical Exchange. Seyla Benhabib et al (Org), with an introduction by Linda Nicholson. New York & London: Routledge, 1995., p.3.

[5] Aqui não desenvolvo particularmente os aspectos e importância da crítica para Butler. No texto O que é a Crítica: um ensaio sobre a virtude de Foucault (2013), ainda que trate da filosofia foucaultiana, alguns traços importantes aparecem: a crítica como prática e seu exercício voltado para o questionamento da constituição mesma de categorias (não o controle semântico delas que já as suporia existentes).

[6] Nicholson. “Introduction”. In: Feminist Contentions …, p. 4.

[7] Para ilustrar isso que coloco, lembro do artigo de Mark Lilla, publicado em novembro de 2016 no New York Times, intitulado The End of Identity Liberalism, causador de enorme reação adversa por parte dos defensores das políticas identitárias e democratas ligados a elas. Também no Brasil o artigo fez eco e Mark Lilla foi inclusive entrevistado pela Folha de são Paulo, com matéria publicada em março de 2018. Ainda que se possa reconhecer que o artigo de Mark Lilla não tinha como objetivo invalidar as políticas identitárias, mas questionar o insucesso dos discursos identitários como plataforma política para alcançar elegibilidade e ocupar espaços institucionais de poder, ocorreu que suas colocações foram profundamente instrumentalizadas e utilizadas como forma de combater micropolíticas e agendas identitárias. Muito rapidamente as lutas e perspectivas identitárias foram equiparadas à perspectiva pós-moderna do fragmento e da crítica da subjetividade, que estariam em oposição à consideração universal do humano. Desdobramentos dessa rede de incompreensão sustentam argumentos, veiculados sobretudo pelos espectros da direita, como privilégios para minorias e direitos que beneficiam a parte corrompida da sociedade que quebrou o pacto social (bandidos, criminosos e delinquentes). Também sentiram o golpe alguns espectros da esquerda que atenuam a narrativa micropolítica e retornam a enfatizar preocupações de ordem universal, especialmente diante dos avanças da extrema direita em sua agenda destituidora de direitos.

[8] Butler, “Vida precária. Contemporânea” \u2013 Revista de Sociologia da UFSCar. São Carlos, Departamento e Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFSCar, 2011, n.1, p. 14.

[9] Para Butler muito esforço foi empreendido para separar a lógica causal entre sujeito da consciência e vontade como instância fundadora (e fundamentadora) do discurso. Não seria o caso de resolver a crise das humanidades pela restauração daquele laço (Idem, p. 14).

[10] Aqui o termo construção aparece entre aspas para marcar sua utilização não conforme a corrente construtivista – já que Butler diz não pertencer a ela – mas como uma locução que apenas ganha contexto significativo em sua qualificação como performativa.

[11] O mesmo questionamento também se aplica à anterioridade do sujeito em relação à linguagem que o refere. Veronica Varsteling, ainda que recoloque Butler no lugar do construtivismo radical (sofisticado construtivismo radical), realiza acurada análise do problema da construção dos corpos e sujeitos pela linguagem e fornece subsídio para pensar a impossibilidade de realidades prévias ao discurso sem incorrer em monismo linguístico. Conferir: Varsteling, Veronica. “Butler’s Sophisticated Constructivism: a critical assessment.” In: Hypatia, Indiana University Press, v.14, n.3, p. 17-38, 1999 (Summer).

[12] Nicholson, Linda. Introduction. In: Feminist Contentions …, p. 5.

[13] Cf. Butler, “Contingent Foundations.” In: Feminist Contentions: a philosophical Exchange. Seyla Benhabib et al (Org), with an introduction by Linda Nicholson. New York & London: Routledge, 1995.

[14] Cf. Díaz, Desconstrução e Subversão:…

[15] A esse respeito, Elvira Burgos Díaz expõe que: “O problema do construtivismo é o que afirma, em certas ocasiões, a existência de certas estruturas, o discurso, a cultura, o poder, que se situa no lugar do sujeito que foi desalojado. O lugar fica assim inalterável, ainda que se modifique o ocupante, com o que, em definitivo, se reforça a tese metafísica da necessidade de um sujeito por detrás da ação, privilegiando-se, por uma parte, a concepção da construção não como atividade, mas como ato único e definitivo de efeitos permanentes, evitando-se, por outro lado, a esfera do excluído – o “exterior constitutivo” – que emerge no exercício mesmo da construção discursiva, estando ali nas bordas do que tem sido dotado de inteligibilidade, por isso, por encontrar-se nesse espaço de contato próximo, possui o ímpeto preciso para, a qualquer momento, inesperado às vezes, irromper no interior do discurso, desfazendo, deslocando as fronteiras e o significado das categorias formuladas. O construtivismo que não retém essa dimensão de atividade da construção estendida no tempo e que tampouco repara nos mecanismos de abjeção inerentes à construção, esse construtivismo, se é determinista, elimina a capacidade da ação humana” (Idem, p. 445).

[16] Butler, Judith. Bodies That Matter: on the discursive limits of ‘sex’. New York & London: Routledge, 1993, p. 9.

[17] Sobre esse aspecto, Butler expõe o que segue: “The body posited as prior to the sign, is always posited or signified as prior. This signification produces as an effect of its own procedure the very body that it nevertheless and simultaneously claims to discover as that which precedes its own action. If the body signified as prior to signification is an effect of signification, then the mimetic or representational status of language, which claims that signs follow bodies as their necessary mirrors, is not mimetic at all. On the contrary, it is productive, constitutive, one might even argue performative” Butler, Bodies That Matter…,p. 30. A esse respeito conferir também: Varsteling, “Butler’s Sophisticated Constructivism…”.

[18] Em passagens absolutamente fundamentais, Butler procura em Aristóteles os passos argumentativos que expõe a relação entre matéria (ainda presença disforme e indeterminada) e schema (que confere contornos determináveis e compreensíveis à matéria), para mostrar o processo de materialização: “In both the Latin and the Greek, matter (materia and hyle) is neither a simple, brute positivity or referent nor a blank surface or slate awaiting an external signification, but is always in some sense temporalized” (Butler, Bodies That Matter p. 31) e ainda: “Schema means form, shape, figure, appearance, dress, gesture, figure of a syllogism, and grammatical form. If matter never appears without its schema, that means that it only appears under a certain grammatical form and that the principle of its recognizability, its characteristic gesture or usual dress, is indissoluble from what constitutes its matter” (Idem, p. 33).

[19] Idem, p.3

[20] Vasterling, “Butler’s Sophisticated Constructivism…,”

[21] Butler, J. “What is critique: An Essay on Foucault’s Virtue”. In: Transversal Text, 2001. Utilizei a versão traduzida para o português por Gustavo Hessmann Dalaqua. “O que é a Crítica: um ensaio sobre a virtude de Foucault”. In: Cadernos de Ética e Filosofia Política. 2013, N. 22, p. 159-179.

[22] Butler, Bodies That Matter… p. 168.

[23] Sobre isso é pertinente lembrar do trabalho na seara dos Estudos Culturais de Stuart Hall, que trata de três formas de identidade, a Iluminista (que troca com o sujeito moderno suas bases metafísicas), a sociológica e a pós-moderna. Conferir: Hall, Stuart. A Identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Thadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

[24] Stuart Hall apresenta a aproximação dos debates pós-estruturalistas mais contemporâneos com análise crítica da identidade: “Está-se efetuando uma completa desconstrução das perspectivas identitárias em uma variedade de áreas disciplinares, todas as quais, de uma forma ou outra, criticam a ideia de uma identidade integral, originária e unificada (…) As perspectivas que teorizam o pós-modernismo têm celebrado, por sua vez, a existência de um ‘eu’ inevitavelmente performativo…”(Idem, p. 103).

[25] Díaz, Desconstrução e Subversão:… p. 459.

[26] “Qué cuenta como una vida: entrevista con Judith Butler” por María Prado Ballarín y Elvira Burgos Díaz. In: Díaz, Elvira Burgos, Qué cuenta como uma vida: la pregunta por la libertad en Judith Butler.. Madrid: Machado Libros, 2008.

[27] Basso, Ianina Moretti. “Juego de heraldos. La pregunta por la agencia.” In: ¿Qué hacemos con las normas que nos hacen?: usos de Judith Butler. Ianina Moretti Basso et al (Org.). Córdoba: Guillermo Manuel Valdiviezo, 2017, p. 27.

[28] Idem.

[29] Cf. Butler, “Contingent Foundations.” In: Feminist Contentions:

[30] Cf. Idem.

[31] Butler, “For a Careful Reading”. In: Feminist Contentions: a philosophical Exchange. Seyla Benhabib et al (Org), with an introduction by Linda Nicholson. New York & London: Routledge, 1995, p.129.

[32] Cf. Idem.